terça-feira, 30 de junho de 2015

Cuidado com a língua!

Desengane-se quem vem para o Brasil e pensa que o país "apenas" tem sol e praia, que todas as moças são donas de um corpo escultural, que as pessoas são sempre simpáticas, que os brasileiros fazem muitas dietas, que todas as casas são magnificamente semelhantes às das telenovelas, que não há estigmas relativamente à religião. Enfim, uma série de a priori que têm necessariamente de ser revistos, sob pena de uma grande desilusão acontecer. Ora, pensar que a língua que Portugueses e Brasileiros falam é muitíssimo semelhante e que toda a gente entende o português de Portugal também são outras questões míticas.

Apesar de falarmos a "mesma" língua, há que ter em conta que o vocabulário diverge. E bastante. Por exemplo, há diversas regiões do país onde "rapariga" tem um sentido pejorativo ou dá-se também o caso de um termo como "cara" (em português de Portugal) não significar exactamente o que nós Portugueses pensaríamos. Já consegui rir das minhas "gralhas", mas também já fiquei desconfortável com a reação do meu interlocutor. Por esta razão decidi criar na página do facebook que acompanha este blog, a ‎rubrica "Cantinho das diferenças". Passem por lá: facebook da "Work & Stuff". Visitem!

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Momentos de exploração.

Crédito da foto: ultradownloads.com.br
Depois de pensar no assunto, entendi que, a par das minhas impressões sobre como é viver na cidade do Rio, deveria dar igualmente uma perspetiva sobre os locais que tenho explorado. Tenho-o feito essencialmente locais não tão turísticos quanto aqueles a que a maioria estará habituada. Trilhas, monumentos, espaços exteriores ou interiores: tudo pode voltar a ser argumento para voltar a soltar meia dúzia de palavras. 
Começarei esta semana, sem horários ou datas definidas, "as usual" :)

domingo, 28 de junho de 2015

Ah, as viagens de ônibus...

A primeira vez que andei de ônibus (autocarro) no Rio de Janeiro tive um único pensamento: vou morrer! Para alguns que não conhecem esta realidade, o comentário pode parecer um tanto exagerado, mas, na verdade, foi isso que me veio à cabeça. Ultrapassagens a alta velocidade, passagem quando o semáforo está vermelho, travagens bruscas, proximidade aflitiva do veículo da frente são apenas detalhes desta aventura que é a de andar de ôbus no Rio de Janeiro. Não foi diferente quando comecei a andar de táxi, mas a verdade é que neste caso parece-me que há - globalmente falando - maiores cuidados.
Enfim, toda uma série de detalhes aos quais não estava habituada, confesso. Mais estranho é ouvir outros relatos que, a par dos detalhes anteriores, ainda acrescentam o que considero um "must": ter de dar indicações ao motorista. Sim: alguns destes motoristas são chamados para o cargo quase de um dia para o outro e, não raras vezes, desconhecem o trajeto que têm de fazer. Por isso, não é de estranhar que frequentemente tenham de contar com a ajuda e experiência prévia dos passageiros. Infelizmente, esta é uma situação muito comum e uma vez mais fomentada pela alta rotatividade deste tipo de profissão, bem como pela falta de formação profissional adequada.
Mas, não se desiludam: o que não falta são os cenários insólitos. Motoristas que não param no ponto habitual ("ponto" é o local oficial de paragem, como se diz por aqui) porque, ou estão com pressa para terminar o seu turno, querem encurtar o trajeto (sim, isso acontece: ônibus que se desviam da sua rota oficial) ou por outros motivos que nem sempre chegamos a conhecer. 
A par das situações enumeradas, há outras que escapam ao desempenho do motorista. Falo, por exemplo, das invasões dos ônibus. Geralmente feita por grupos que tentam forçar a porta de saída do ônibus, nem sempre estas invasões são sinónimos de assalto: às vezes "apenas" significam que a rapaziada quer andar de transporte público sem pagar. Já vi uma destas situações e posso assegurar que, ou o motorista abria a porta, ou os vândalos destruíam o veículo!
É ainda frequente que nos cruzemos com vendedores ambulantes de rebuçados e/ou guloseimas diversas nos ônibus (mais do que no metro). Normalmente, estes vendedores pedem autorização ao motorista para entrar pela porta traseira do veículo, evitando assim pagar o bilhete da viagem. Alguns destes vendedores "recompensam a gentileza" dos motoristas com algumas porções da sua mercadoria.
Exemplo de catraca existente em alguns ônibus
(crédito da foto: ANFS).
No que se refere à organização do transporte por ônibus houve um detalhe adicional que me chamou a atenção: a presença - não em todos, mas na maior parte dos ônibus - de um(a) cobrador(a), envolvido numa espécie de "refúgio" composto por barras metálicas. A par disso, a existência de catracas metálicas que o passageiro apenas passa, após ver a validação do seu bilhete/passe também foi algo a que não estava particularmente habituada.
Desengane-se também quem pensa que ao entregar o pagamento da sua viagem fica com algum papel/comprovativo da sua despesa: é feito o pagamento ao cobrador ou motorista, mas não é devolvido qualquer comprovativo ao passageiro. Ou seja: nem há bilhete, nem há recibo.
Para aqueles que quiserem comprar previamente um passe de ônibus (ou espécie de...) ou quiserem conhecer um pouco mais do funcionamento deste tipo de transporte, sugiro a consulta deste site ou deste. Caso o passageiro esteja perdido ou pretenda fazer alguma reclamação sobre a conduta do motorista ou outro transtorno que possa ter ocorrido durante a viagem, então tem ainda outros canais: aqui ou aqui.

Ah, não se assustem: há ônibus com bons motoristas e sem os percalços que referi anteriormente. Contudo, não se iludam: a Cidade Maravilhosa também tem os seus defeitos :)

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Junho, um dos meses da minha história.


Fevereiro, Junho e Outubro são meses de histórias. Das minhas histórias. 

Há 12 anos, Bélgica; 10 anos depois, Brasil.
A primeira vez sem skype, sem facebook, sem whatsapp e coisas que tal. Agora, com tudo e mais alguma coisa, mas, curiosamente, muito mais inexplicavelmente difícil. Sem arrependimentos, no entanto. 
A tecnologia evolui, mas o preço destas aventuras e desventuras continua alto: culpamo-nos, questionamo-nos, angustiamo-nos, "mas o destino, a vida e o peito às vezes pedem que a gente embarque. Alguns não vão. Mas nós, que fomos, viemos e iremos, não estamos livres do medo e de tantas fraquezas. Mas estaremos para sempre livres do medo de nunca termos tentado".

As palavras a propósito desta leitura.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

As greves.

Numa altura em que se vislumbra mais uma greve da Carris, em Portugal, não posso deixar de fazer comparações com o que se passa no Brasil. Por razões que só a mim dizem respeito, não me vou pronunciar sobre a pertinência ou não dessas greves, seja em Portugal, seja no Brasil.
Exemplo de um aviso de greve
(Crédito da foto: ANFS).

O ano passado, 2014, em plena temporada de Campeonato do Mundo do Futebol, no Brasil, houve duas greves que diretamente me influenciaram: a de alguns serviços da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a dos vigilantes (pessoas armadas e de colete à prova de bala, presentes nas várias dependências de todos os bancos (e não só!) que por aqui existem). Ora, dizia eu, ambas as greves - que a dada altura tiveram momentos comuns de "atuação" - me atrapalharam a vida, profissional e/ou pessoal. É que, meus amigos, desengane-se quem pensa que estas greves duram "apenas" um dia ou dois: não! Estamos a falar de greves que decorrem, na maioria das vezes, durante tempo indeterminado: a greve na UFRJ posso garantir que durou, ao menos, dois meses; a dos vigilantes, diria que pelo menos um mês.
Para quem não está habituado a estes "prazos", posso afiançar-vos: os danos para os utilizadores dos serviços são imensos. No caso dos bancos, que em muito dependem destes vigilantes para assegurar o seu funcionamento em segurança, houve serviços totalmente comprometidos: por exemplo, era impossível fazer transações em dinheiro, por questões de segurança; outra situação que aconteceu foi o "fecho" de algumas sucursais ou a colocação de "redomas" de vidro a separar os colaboradores dos clientes e que apenas eram abertas após o cliente informar que iria tratar de assuntos que não envolvessem a transação de "dinheiro vivo". No caso da greve de serviços na UFRJ, houve processos que, simplesmente, pararam...

Suponho que este é mais uma realidade à qual muitos de nós, estrangeiros e oriundos de países europeus, dificilmente nos habituaremos.

Natureza nas ruas.

Uma das características que me atrai nas ruas do Rio é a possibilidade de ver plantas que em Portugal veríamos apenas no interior das casas: bromélias, epifitas, fetos, orquídeas, antúrios, entre outras.
Foto tirada no verão carioca
(crédito: ANFS).

Actualmente estamos no Inverno - inaugurado há poucas horas, diga-se de passagem -, mas daqui a poucos meses poderemos voltar a encontrar essas orquídeas novamente floridas e com as raízes agarradas às árvores. Há quem considere que estas orquídeas são parasitas e que "sugam" as árvores, outros defendem que apenas se agarram às árvores em busca de humidade, luz e algum tipo de musgo. O que é certo é que este fenómeno se encontra espalhado um pouco por todos os bairros residenciais e é algo de que gosto particularmente.


quinta-feira, 18 de junho de 2015

O significado das palavras.

Um dos aspectos mais consensuais para quem muda de país é o de que terá de adaptar-se à nova língua: Francês, Inglês, Mandarim, Castelhano, Alemão, entre muitas outras. Ora, o mesmo acontece a quem se muda para o Brasil: também tem de se adaptar à língua que aqui se fala (sim, adaptar-se ao "Português"!). Num dos posts anteriores já discutimos o suficiente sobre o adotar ou não uma postura mais "postiça" em função das circunstâncias ou da necessidade de valorização da pessoa que fala (sim, mas vocês têm dúvidas de que há Portugueses que falam em Português do Brasil em circunstâncias pouco apropriadas? Eu não!).
Uma língua, inúmeras diferenças
(Fonte: Coonsulado de Portugal em Paris).
Bem, mas, parecendo fácil, a integração no Brasil nem sempre facilita. Sobretudo, ao nível do léxico: apesar de termos a mesma "mãe", a Língua Portuguesa, o vocabulário varia bastante. Além de alguns termos de uso corrente que variam e de que temos dado conta na rubrica "Cantinho das diferenças", na nossa página do Facebook, a verdade é que há expressões que nos obrigam a uma ginástica mental ainda mais diferente. Exemplo disso foi quando comecei a ouvir "Presidente sanciona lei XPTO". Para mim, "sancionar" significava, grosso modo, "castigar". No entanto, não é esse o significado por aqui: "sancionar" significa, no contexto que mencionei anteriormente," aprovar", "validar".

Estas diferenças servem-me, uma vez mais, de exemplo: não julgar sem tentar perceber!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Próooooxiiimoooo!

Acredito que todos nós temos "odiozinhos de estimação". Bem, se não temos todos, eu, ser profundamente imperfeito, serei diferente e assumo que tenho alguns. A par das meias brancas usadas com sapato, há um "odiozinho" que surgiu após a minha vinda para terras de "Vera Cruz": a expressão "próoooooxxximooo". Assim mesmo: "próoooooxxximooo", num tom de voz que pode ser mais ou menos grave, mais ou menos alto.
Não importa o tipo de atendimento: o cliente deve ser sempre respeitado.
(Crédito da foto: maternarum.com.br)

Defeito profissional ou não, a verdade é que esta forma mecânica, despreocupada e, não raras vezes, negligenciada de chamar o cliente deixa-me verdadeiramente irada. O cenário poderia melhorar se fosse acompanhado por um "bom dia", "boa tarde", "olá" ou até, na loucura, um simples "oi" - nunca pensei dizer que um "oi" seria algo a tolerar. Mas não: na maioria das vezes, é apenas "próoooooxxximooo" e nem mais uma palavra até ao fecho da venda. 
Senhores, isto não ajuda à fidelização de clientes! Muito se tem apontado e debatido relativamente à generalidade dos maus serviços prestados no Rio de Janeiro (felizmente, há exceções!), mas a questão impõe-se: onde anda a formação profissional dos colaboradores que estão no atendimento ao público? Ou melhor: onde anda a consciência dos líderes e gestores destas equipas para desvalorizar a importância da formação profissional? Para quem não vive este cenário, realmente é um choque e, pior, não poderemos associar apenas à marca A ou B: vê-se um pouco por todo o lado!

Para aqueles que se confrontam com situações de mau atendimento - envolvendo ou não questões técnicas -, se estiverem no Brasil, podem utilizar, entre outros, o site ReclameAQUI ou contactar o PROCON (Portal do Consumidor) da vossa zona de residência/estadia.

E vocês, já sentiram algo semelhante que vos perturbasse enquanto foram atendidos?

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Empreendedorismo carioca.

De acordo com o índice de Gini5, que mede a desigualdade de rendimentos, o Rio de Janeiro é a capital brasileira mais desigual, juntamente com São Paulo. No entanto, para muitos brasileiros e, sobretudo, estrangeiros, viver no Rio de Janeiro ainda é um sonho.

Vendedor de bolos.
Normalmente, este tipo de vendedores surge à tarde.
(Crédito da foto: ANFS)
Ora, para quem cá chega e já teve a oportunidade de ter visitado outros "mundos", algo que se destaca é a proliferação de comerciantes de rua (algo que, comparado com a Europa, simplesmente não é comparável): por todo o lado há sempre alguém que vende alguma coisa, numa banca de cartão improvisada, num carrinho perfeitamentamente transportável para outro local ou mesmo sobre uma canga, na beira da rua. Ainda que não se aplique a todos os vendedores - muitos têm "pouso" próprio -, muito do que vejo sooa-me a improviso: seja do posto de venda, seja da necessidade de vender. Ou são rebuçados, ou bonecos, ou roupas para bonecos e animais de companhia, ou fatias de bolo, ou bebidas, ou comidinhas ao longo da praia, ou ovos, ou bijouteria, ou água de coco, ou roupa interior, ou sacos e laçarotes para embrulhar presentes, ou outra coisa qualquer. Tudo é negócio. 
Nas ruas de Copacabana, por exemplo, é muito comum vermos alguns vendedores ilegais com atenção redobrada e preparados para fugir em caso de avistamento da polícia. Digo "ilegais", porque, se não o fossem, seguramente não precisariam de sair às pressas, não é verdade? Rapidamente me lembro das vendedoras de manjericos na zona da Rotunda da Boavista, no Porto, que, em caso de aproximação da Polícia, fugia a sete pés!
Enfim, confesso que uma das coisas que mais me espantou que vendessem na rua (dentro de um pequeno quiosque, é certo) foi... adivinhem!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Os dias 12 do mês de Junho.

Para mim, Portuguesa e longe das atuais paragens durante muitos anos, o dia 12 tem tido o mesmo significado que os outros dias do calendário: é apenas mais um dia. Ou melhor, "era".
Multidão presente em Copacabana no dia do jogo inaugural
(Crédito da foto: ANFS)
"Era" até ao ano passado, altura em que o dia 12 de Junho teve a capacidade de fazer um apagão generalizado da memória coletiva brasileira, em nome de uma "religião" com seguidores espalhados pelos quatro cantos do Mundo, em geral, e pelo Brasil, em particular. Enfim, falo do futebol! 12 de Junho de 2014: data do início do Campeonato do Mundo de Futebol, no Brasil. Tudo estava encaminhado para correr mal: os comentários pré-campeonato eram sintoma de que uma catástrofe iria acontecer - os estádios não estariam prontos, as infraestruturas de apoio estavam totalmente desadequadas e, em muitos casos, não prontas, o povo iria revoltar-se, em manifestações violentas semelhantes às de 2013. Enfim: seria a verdadeira vergonha nacional.
Multidão presente em Copacabana no dia do jogo inaugural
(Crédito da foto: ANFS)
A monumental vaia à Presidente Dilma, no jogo inaugural, na Arena Corinthians, bem como algum descrédito dado ao desempenho dos artistas da bola em sua casa só vinham colocar mais lenha na fogueira.
Seguramente que houve muita coisa que correu menos bem e que muito se poderia discutir sobre a pertinência desse Campeonato do Mundo de Futebol. Contudo, o que vi no Rio de Janeiro foi uma enorme e colorida festa ao longo de todo o período em que decorreu o Campeonato. Houve aspetos menos positivos? Sim, vários. No entanto, as previsões mais catastróficas não aconteceram. Ou melhor, aconteceram: o Brasil não foi campeão :)

Mas, o dia 12 tem ainda outro significado para o povo brasileiro: é neste dia que se comemora o dia dos Namorados. Para quem desconhece, trata-se, comercialmente falando, de uma data com uma expressão de vendas apenas comparável com as do Natal e do Dia das Mães (esta é uma data muito vivida, no Brasil). Infelizmente, ao que parece, este ano as previsões de vendas são aterradoras, fruto do mau clima económico que atravessa a sociedade brasileira.
Uma das imagens do filme "Ônibus 174", de José Padilha.
Por fim, mas não menos importante: o dia 12 de Junho representa igualmente o dia do terror. Faz hoje precisamente 15 anos que o Rio de Janeiro viveu um dos seus dias mais negros e inesquecíveis: sequestro ao ônibus 174, junto ao Jardim Botânico. O sequestro foi levado a cabo pelo sobrevivente da chacina da Igreja da Candelária, Sandro do Nascimento. Muito se discutiu sobre as motivações deste incidente, bem como sobre a atuação da força policial. Há quem não hesite em referir que este foi um dos grandes casos que envergonhou a polícia militar do Rio de Janeiro e que, fruto disso, conduziu a alterações mais ou menos profundas na forma de atuação da mesma. De recordar que no momento da saída do sequestrador do ônibus, um dos policiais alegadamente errou no destinatário dos seus tiros: foi morta a refém que servia de escudo ao sequestrador - um dos tiros, alegadamente feito pelo policial, os outros três, feitos pelo bandido. O sequestrador foi preso pela polícia no próprio dia e logo após o tenso momento de troca de tiros, mas acabou por morrer por asfixia na viatura que o levava até ao cárcere. Os policiais acusados pela sua morte foram julgados e declarados inocentes.

Numa altura em que se discute a questão da redução da maioridade penal no Brasil e do aumento generalizado da violência no Rio de Janeiro, não deixa de ser irónico recordar este episódio...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Dia de Portugal no RJ.

Algumas das iguarias disponibilizadas
(Crédito da foto: ANFS).
Ontem, 10 de Junho, foi dia de comemoração um pouco por todo o Mundo, em geral, e no Rio de Janeiro, em particular: foi dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A cerimónia oficial de comemoração da data ocorreu no magnífico Palácio São Clemente, em Botafogo.

Além da ilustre participação de muitos compatriotas desconhecidos, tivemos a possibilidade de receber algumas palavras de conforto e reconhecimento por parte dos representantes oficiais de Portugal: Senhor Cônsul, Senhora Cônsul-Adjunta e Senhor Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. O convívio, como não poderia deixar de ser, contou com a presença de alguns dos tradicionais elementos da gastronomia Portuguesa - bacalhau, enchidos, pão tradicional, bolos e vinho e cerveja -, bem como representantes da nova música Portuguesa, além da recitação de um breve trecho de Camões. 

Representantes do Governo português
(Crédito da foto: ANFS).
Resumidamente: foi agradável participar no evento.

Ora, mas à parte o evento público e oficial, o que me diz esta comemoração? A verdade é que, confesso, seguramente me diz muito mais do que diria estando em Portugal. Não é a primeira vez que comemoro a data fora de "casa": a primeira vez foi quando vivi na Bélgica, há mais de 10 anos e, posteriormente, nos útimos dois anos, no Brasil. Pode parecer um pouco "snob", mas não é: todos nós, Portugueses a viver fora de Portugal, somos embaixadores do nosso país. Uns, mais extremistas que outros, mas todos nós temos, à semelhança de quem fica em Portugal, um papel profundamente evangelizador e com uma forte influência na imagem que os outros têm de Portugal. Não é raro encontrarmos por aqui quem nos culpe por todos os males que lhes acontecem (sim, este é um tema muito polémico e que me deixa com as entranhas às voltas), mas também há os que, tendo já estado em Portugal, adoram o país e as suas gentes! Esta semana, por exemplo, numa rua em Copacabana, o inesperado aconteceu: a propósito de uma indicação a uma cidadã carioca, acabei sabendo que já foi 4 ou 5 vezes a Portugal, passou lá a última época natalícia e, em breve, regressará para comprar um apartamento em Marvila, Lisboa. Mas, há mais; durante o tempo em que conversava com esta pessoa e esperava que o sinal do semáforo passasse a verde, apareceu uma nova cidadã que simplesmente, ouvindo a nossa conversa, disse amar Portugal. Ou melhor, segundo ela, amava Lisboa e Cascais (desconheço mais detalhes, porque o sinal entretanto mudou).
Mas, muito antes destes episódios, outros (agradáveis) aconteceram. Aliás, não é de agora: quando vivia na Bélgica e muito antes de Portugal ser um país "na moda", já era muito boa a impressão que os meus colegas, conhecedores do país, tinham. Ok, nem sempre o feedback é positivo, mas quase sempre o é!
Estou certa de que estes ou outros episódios acontecem um pouco por todo o Mundo e que, apesar de nós, expatriados, podermos (eventualmente) ter alguns assuntos mal resolvidos com a nossa Pátria, ficamos profundamente orgulhosos por este novo papel, nem sempre reconhecido: o de embaixadores!

Mas, voltando ao início: o que sinto no dia 10 de Junho? Nada que não sinta nos outros dias do ano: um profundo orgulho - sincero e não chauvinista - de ser Portuguesa, com todos os defeitos e com as qualidades que Portugal e os Portugueses têm.
(já agora, falta muito para ir dizer olá à Pátria?)

terça-feira, 9 de junho de 2015

Festas juninas e as semelhanças com os Santos Populares.

A primeira vez que ouvi falar nas festas juninas foi o ano passado, no Rio de Janeiro. O que começou por me chamar a atenção foram as vestimentas à venda nas lojas. Mais tarde, tive a oportunidade de participar numa festa junina e: adorei!
Como as festas de que ouvia falar ocorriam no mês de Junho, a primeira ideia que me ocorreu foi: festas juninas = festas dos santos poulares. Algumas semelhanças existem, mas, de facto, as tradições são um pouco distintas. Actualmente, apesar de as festas juninas se concentrarem essencialmente no mês de Junho, estendem-se ainda pelos meses de Julho e Agosto.
Quadrilhas, uma das danças típicas
(Crédito da foto: desconhecido).
Parece que as "festas juninas" ou "festas Joaninas", como eram conhecidas no início da tradição, foram trazidas para o Brasil, pelos Portugueses, na época da Colonização. No início, ocorriam no mês de Junho e em homenagem a São João.
Apesar da grande herança Portuguesa, havia ainda influência cultural de chineses, espanhóis e franceses. De França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas. Já a tradição dos fogos de artifício, veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da Península Ibérica teria vindo a dança de fitas. Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país. 
Algumas das comidas típicas das festas juninas
(Crédito da foto: desconhecido).
Embora sejam comemoradas nos quatro cantos do Brasil, na região Nordeste as festas ganham uma grande expressão: além de se fazerem homenagens aos três santos católicos - São João, São Pedro e Santo António -, também se aproveitam as festividades para agradecer as chuvas raras na região.
E o que vemos nas festas juninas? Comidas típicas e tradições diversas.
Como o mês de Junho é a época da colheita do milho, grande parte dos doces, bolos e salgados, relacionados com as festividades, são feitos deste alimento: pamonha, cural, milho cozido, canjica, cuzcuz, pipoca, bolo de milho são apenas alguns exemplos. Além das receitas com milho, também fazem parte do cardápio desta época: arroz doce, bolo de amendoim, bolo de pinhão, bombocado, broa de fubá, cocada, pé-de-moleque, quentão, vinho quente, batata doce e muito mais. 
Roupa feminina tradicional
(Crédito da foto: desconhecido).
A par da comida típica, existem ainda algumas tradições que não costumam faltar: as fogueiras, que servem como centro para a famosa dança de quadrilhas; os balões; a formação dos grupos festeiros, que vão andando e cantando pelas ruas das cidades e, ao passar pelas casas, os moradores deixam nas janelas e portas uma grande quantidade de comidas e bebidas para serem degustadas. Já na região Sudeste são tradicionais a realização de quermesses, realizadas por igrejas, colégios, sindicatos e empresas. Possuem barraquinhas com comidas típicas e jogos para animar os visitantes. A dança da quadrilha, geralmente ocorre durante toda a quermesse.
A par destas tradições, é habitual vermos as lojas todas preparadas com a venda de vestimentas adequadas para a época: chapéus de palha, camisas ao xadrez, vestidos curtos e coloridos. Enfim, uma festa!

E vocês, já participaram em alguma festa junina? Se sim, o que acharam?

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O desporto e os cariocas.

Hoje é feriado nacional no Brasil ("Corpus Christi") - também já o foi em Portugal, mas recentemente deixou de ser. À semelhança do que acontece aos domingos e feriados, hoje o trânsito de veículos é interrompido na Avenida Atlântica e esta transforma-se numa grande área de lazer.
Equipamentos de manutenção para a 3.ª idade
(Crédito da foto: ANFS).
Bem, mas isto a propósito de quê? Desporto! Por aqui proliferam as academias (ginásios), as lojas de venda de suplementos proteicos, os equipamentos de desporto ao ar livre, as aulas noturnas na praia, além de corredores e ciclistas.
Treino na areia, ao fim da tarde
(Crédito da foto: ANFS).
Muito se fala do culto do corpo por parte dos brasileiros e isso inclui necessariamente o desporto e as cirurgias estéticas (das quais que não falarei para já). No caso da generalidade dos brasileiros, nada posso afirmar de concreto, porque não tenho conhecimento suficiente, mas quanto aos cariocas: sim, culto do corpo e, acima de tudo, do desporto - os preços dos ginásios chegam a ser exorbitantes (à semelhança de tudo nesta cidade!) e, segundo os entendidos na matéria, estes deixam a desejar, quando comparados com o que se vê pela Europa fora.
No meu caso concreto, posso dizer que, não sendo assídua, também me rendi a algo impensável: vida desportiva. Há quase 20 anos que não fazia qualquer desporto! Para já: caminhadas (é desporto, certo?), corrida (já tenho uma oficial no currículo!) e ciclismo (ok, pedalar um pouco não faz milagres, mas já dá para retirar da testa o rótulo de sendentária).
Apesar de facilmente vermos desportistas por todo o lado e de o Rio de Janeiro ser a capital de corpos "sarados"(em boa forma), a cidade ainda é a capital nacional das pessoas obesas. Pudera: doces altamente doces e comida em porções generosas, quem resiste?!

E vocês: também alinharam no desporto?

terça-feira, 2 de junho de 2015

Feiras livres: cores e cheiros.

Ao contrário do que habitualmente via em Portugal, aqui no Rio de Janeiro as feiras semanais que se encontram espalhadas pelos bairros da cidade, não incluem a venda de roupa, sapatos e outros artigos não comestíveis. Aqui, encontramos desde legumes e ervas aromáticas, frutas, peixe, ovos, frangos, queijos, flores a biscoitos de feira. A par deste tipo de feiras, também há as feiras de artesanato, antiguidades, etc. No entanto, nestes casos, a regularidade não costuma ser semanal.
Porções de pimentas
(Crédito da foto: ANFS).
A estas feirinhas, com dias específicos para se realizarem em cada bairro, chamam-lhe "feiras livres". Para quem quer conhecer o dia e bairro em que acontece cada feira, basta aceder ao link.  Parece que não é clara a origem das feiras livres: uns dizem que surgiram em 500 a.c. no Médio Oriente, outros, na Idade Média, associdadas a festividades religiosas. No caso concreto das feiras existentes no Rio de Janeiro, estão maioritariamente associadas a origens Portuguesas e/ou trabalhadores oriundos do Nordeste do Brasil. Para que se tenha uma ideia mais precisa: actualmente existem cerca de 200 feiras livres no Rio, nas quais participam quase 6000 trabalhadores, que por sua vez movimentam cerca de 13 mil toneladas de produtos/mês.
Legumes vendidos em sacos:
nem sempre está o mesmo número de unidades em cada saco
(Crédito da foto: ANFS).
Salvo algumas exceções, normalmente os legumes, ervas aromáticas e frutas não são pesados em balanças. Estes são vendidos por lote, saco previamente composto por X unidades de produto ou tijela, em que cabem Y unidades (exemplo: venda dos pequenos frutos, como a jabuticaba). Não raramente também se vê a venda de "3 por 5", o que na realidade significa "três unidades de um produto, por 5 reais", por exemplo.
Eu, particularmente, gosto destas feiras: pelo cheiro, pela movimentação de pessoas, pelos pregões, pelas cores, pela observação das técnicas de venda e, sobretudo, pela oportunidade de trocar meia dúzia de palavras com os comerciantes. Como disse anteriormente, algumas destas feiras têm origem portuguesa, o que ainda é muito visível: vendedores com origens em Viseu são os que mais tenho encontrado. E, sim, alguns ainda conservam o "bigode" e um ligeiro sotaque português, apesar de décadas de convívio com Brasileiros.

Vão vendo a nossa página do facebook: mais tarde publicaremos mais fotos.

Ficaram com curiosidade?