quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Mwongolé e o falar da sua banda.

Além do português que é a língua oficial de Angola, existem algumas línguas africanas faladas no país e que têm o estatuto de língua oficial. Há ainda línguas africanas que são faladas por algumas etnias e existem ainda dialectos falados por sub-etnias. Há 6 línguas étnicas com o estatuto de "língua nacional": umbundu, kimbundu, kikongo, chocué, ganguela e cuanhama.

A par das especificidades de cada língua e/ou dialecto, existem termos que se utilizam de forma mais ou menos corrente pela população angolana:

  • Ainda - não. Exemplo: Chegaste a fazer o telefonema que te pedi?- Ainda
  • Avilo - Amigo; Br"ó"ther
  • Bala - bom. Exemplo: "Esse cenário tá bala?" Tradução: A festa está a correr bem?
  • Bater - dar. Exemplo: - Essa discoteca agora está a bater
  • Bico - Pontapé. Exemplo:- Vou te dar um bico
  • Cenário - acontecimento, evento, reunião, ...
  • Cubico - casa
  • Dores de bexiga - dores menstruais
  • Desconseguir - o contrário de conseguir
  • Fazer banga - exibir, ostentar (roupas de marca, ouro, um carro desportivo, ...)
  • Gasosa - tem duplo significado na realidade, pode querer significar mesmo gasosa, tipo coca-cola, ou, na maior parte das vezes, quer dizer retribuição em kumbu (em troca de um favor)
  • Ginga - bicicleta
  • Incomodado - doente
  • Kamba - amigo
  • Kandongueiro - táxi/minivans que leva até 12 pax. 
  • Kazucuteiro - preguiçoso
  • Kilapi - crédito, empréstimo
  • Kumbu - dinheiro
  • Maca, kijila - problema. Exemplo: - Não tem maca!
  • Malaique - tem 2 significados, pode querer dizer polícia ou que está tudo a correr mal. Exemplo 1: Os malaiques vêm aí, cuidado! Exemplo 2: Estou chateado, está tudo malaique...
  • Mambo - coisa, cena. Exemplo: - Esse mambo não funciona
  • Mangwolé - nativo de Angola; Angolano
  • Matabicho - pequeno almoço, café da manhã
  • Mbaia - chapada
  • Mbaiar - ultrapassar pela direita
  • Musseque - bairros de lata tipo favelas que rodeiam e invadem a cidade de Luanda
  • Salo - trabalho
  • Pinar - atirar-se à água; mergulhar
  • Pula - nome genérico dado aos brancos e estrangeiros de Luanda
  • Raias - óculos de Sol
  • Ruca - carro
  • Tiriri - gatuno
  • Ya - partícula que pode e deve ser utilizada no fim de qualquer frase e que tem a capacidade de a tornar facilmente compreensível para o outro lado. Exemplos: - Hoje não tenho nada para te dar, ya! - Essa comida é para dividires com os outros dois miúdos, ya?- Sim madrinha, entendi.
Foto retirada da internet.

Mais algumas sugestões?

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Gerador (não, não é gerador de ideias!)

Nesta altura do ano surgem alguns elementos "novos" nas vivências angolanas: fruta desconhecida, chuva (muita e relativamente violenta) e calor (altas temperaturas e a sensação permanente de que alguém se esqueceu de fechar a porta do inferno). Os constrangimentos que decorrem destas duas últimas "novidades", são vários e, se a eles juntarmos a falta de infraestruturas, temos um mix relativamente animador. 
Quando se fala de Angola, deve ter-se presente que o país tem especificidades próprias, atravessou um longo período de guerra civil e que há muito por fazer para que as condições de vida das populações sejam minimamente satisfatórias e condizentes com o que deve ser o valor e necessidades do ser humano. Ora, ter o mínimo de qualidade de vida pode implicar... ter um gerador eléctrico (o que não sei se acontece com a maioria dos habitantes nacionais)! Em algumas zonas da cidade de Luanda, as quebras de energia são tantas, tão recorrentes e tão duradouras que, sem gerador, a vida torna-se ainda mais complicada. Com as chuvas e o calor a aumentar, o que se tem visto é que as quebras de energia têm sido ainda mais evidentes (há quem diga que as infraestruturas eléctricas não estão preparadas para aguentar, por exemplo, a utilização permanente do ar condicionado).
A vários níveis, tenho tido um baptismo angolano verdadeiramente "top". No que diz respeito a viver com gerador eléctrico, asseguro: é mau (barulho), é caro, é incómodo, é inimigo do ambiente. Contudo: viver sem ele e  sem electricidade é muito pior...
Imagem retirada da Internet.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Os olhos tristes.

Ao longo dos meus quase 20 e poucos anos de vida (!!!!!) posso dizer que raramente convivi com situações de pobreza extrema. Existem seguramente nos outros países em que vivi, mas tive sorte: nunca me cruzei sistematicamente com elas. Contudo, a experiência brasileira e angolana tem-me trazido novas lições...
Foi no Brasil que comecei a "experiência". Graças a uma amiga aprendi que há muita gente que sobrevive à custa do que encontra nos caixotes do lixo e que todos nós poderemos - em qualquer parte do Mundo - tornar esta tarefa menos ingrata. Embora habitualmente não tenha desperdícios, a verdade é que nunca mais consegui jogar restos de comida ao lixo: sempre que não tenho outras alternativas, coloco os restos de comida (mesmo que sejam reduzidas quantidades!) dentro de sacos de plástico, que fecho bem para que o seu conteúdo não fique contaminado quando for misturado com o outro lixo.
Em Luanda, a situação mantém-se e é-me particularmente difícil de gerir: há vários adultos e crianças que me abordam dizendo que têm fome. Bolas, como lidar com isto? Não se consegue :(
Viver longe da nossa zona de conforto é resmungar muitas vezes, é perguntar-se constantemente o que se faz longe de casa, é desgastar-se fisicamente, é maldizer todas as "pedras" que surgem no caminho, é emocionar-se com pequenas coisas e é, acima de tudo, dizer que se é muito abençoada por ter direito a condições de vida acima da média da maioria da população.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ar doce de menina.

Surge com o pequeno menino às costas. Aparenta ter 20 e poucos anos, mas, Deus, será que sim (é muito fácil enganar-me nestas avaliações)?
Cedo percebeu que "a amiga branca" tinha potencial para ser cliente assídua. Então, várias vezes por semana, à hora de almoço, a campainha toca:
- Amiga, me vê umas frutas!, diz.
- O que tem?, pergunto.

A bacia vem pesada e carregada de fruta.  Um dia disse que a ajudava e, sem grandes alternativas, meio que hesitante, aceitou. Normalmente, a ajuda dos "manos" na descida da bacia que transporta à cabeça é recompensada por uma banana, rapidamente engolida. Quero acreditar que, no meu caso, o "prémio" será o desconto.
Amanhã é outro dia, outro soar de campainha, outro sorriso aberto, outras palavras de criança, outras palavras de agradecimento.
("Margarida" é o seu nome e, como já antes referi, é uma das muitas vendedoras ambulantes ("zungueiras")  que circula diariamente nas ruas de Luanda).

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ambulantes.

À semelhança do que via no Rio de Janeiro, também na cidade de Luanda é evidente a presença dos vendedores ambulantes. Um pouco por toda a cidade é comum encontrarmos venda de frutas, legumes, bebidas, acessórios (para veículos, casa, telemóveis), cartões de recarga de telemóveis, jornais, vestuário, calçado e muito mais. No entanto, o que me parece substancialmente diferente do que via no Rio, é que a diversidade de artigos vendidos nas filas de trânsito é muito maior do que alguma vez vi nas estradas da linha vermelha ou amarela, por exemplo.
Convenhamos que a venda de jantes e escovas de automóvel, carregadores de telemóvel e insecticidas nas filas de trânsito é algo que ainda me mete alguma confusão. No entanto, apesar de estranhas, estas vendas têm-se tornado úteis em algumas circunstâncias :)
Vendedor de aventais (o senhor usava um avental semelhante aos que vendia).

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Foi um cisco no olho...



Ultimamente têm sido muitas as vezes em que fiquei com um nó na garganta - e posso confessar que isso não é tarefa fácil!
Um destes dias conversávamos com um taxista, oriundo do Burundi. No seu inglês perceptível foi falando do país, de Portugal e, com um sorriso no rosto, da família que perdera no mal-fadado conflito que assolou (assola?) o seu país. Disse-nos que era "refugiado" de guerra. Hoje, trabalhava como taxista para arranjar dinheiro para regressar aos estudos universitários que interrompera e, quem sabe, voltar para visitar a sua terra Natal - da qual apenas lhe restam as memórias (e que "raio" de memórias, imaginei eu!).
Esta é somente uma das muitas histórias com que me cruzo diariamente e que, por razões cá minhas, nem sempre "cabem" no blog. Muitas são histórias de sobrevivência que me fazem pensar que nunca, em momento algum, conseguirei ser suficientemente grata por ter nascido livre e num país sem vestígios de guerra.
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Foto retirada da internet.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Albinos africanos.

O albinismo resulta de um distúrbio genético relacionado com a ausência ou problemas da enzina envolvida na produção de melanina. A falta de pigmentação da pele e problemas ao nível da visão são apenas alguns dos efeitos visíveis provocados pelo distúrbio mencionado.
Em tempos - e muito antes de sonhar uma vinda para Angola - já tinha ouvido falar do preconceito contra albinos, em África. Além de serem segregados pela sociedade, por serem totalmente diferentes dos seus pares, as questões associadas à feitiçaria sobressaem: para muitos, estas crianças são associadas a infortúnio e má-sorte, para outros, a posse de algum dos seus membros é sinónimo de riqueza e alegria. 
Se querem saber um pouco mais sobre esta problemática e o seu impacto em África, recomendo uma passagem por aqui: http://albinism-in-africa.com/
O albinismo é muito comum na África subsahariana. O albinismo é muito comum em Angola. O albinismo não pode ser motivo para desrespeito da condição humana!
Foto retirada de: www.conexaolusofona.org

domingo, 23 de outubro de 2016

Muda-se de país, mudam-se as estações do ano.

Dizem que lá no hemisfério Norte é Outono. Por aqui, hemisfério Sul, é Primavera. 
À semelhança do que acontece no Brasil, em Angola a Primavera assinala o início da época das chuvas - que serão ainda mais evidentes nos meses de Verão (de Dezembro a Março). Também aqui noto diferenças em relação aos outros países em que vivi: nuvens negras quase nunca significam a vinda das chuvadas violentas. O que realmente costuma ser sinal disso é o aumentar da intensidade do vento, dizem os entendidos.
Foto retirada da internet.
Para já, as pingas que caíram ainda não são assustadoras. Contudo, é evidente que os ventos estão a tornar-se mais fortes e intensos, o que quererá dizer que a chuva não deve tardar.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Candongueiros, essa "raça" especial.

Falar de Angola é, para muitos, falar de candongueiros.
"Candongueiro" é o nome pelo qual é conhecido o transporte colectivo e público de passageiros (pode referir-se ao veículo em si ou ao seu condutor). Distinguem-se por serem de cor branca e azul claro. Inicialmente, este transporte estava associado às carrinhas "Toyota Hiace", mas hoje já se vêem outros modelos. 
Resolvi falar dos candongueiros por duas razões: a primeira, é que são "objecto" de diversão ou terapia anti-stress quando vou no trânsito - os seus vidros traseiros têm mensagens que são autênticas "pérolas"; a segunda, é que são o claro exemplo de um péssimo exercício de condução automobilística e desrespeito pelos demais condutores. Exagero meu? Desenganem-se: acredito que façam parte do grupo mais odiado por angolanos, em geral, e estrangeiros, em particular.

Uma das pérolas (há muitas outras!)


terça-feira, 4 de outubro de 2016

Nacionalismo sem dramas.

Às vezes sou acusada de ser um pouco insensível em relação ao sentimento da "Saudade". Em jeito de defesa, digo que 4 países no currículo dão-me argumentos mais do que suficientes para suprir uma série de "fragilidades". Brincadeiras à parte, sair de Portugal tem as suas vantagens e a principal delas, na minha modesta opinião, é que aprendemos a valorizar o nosso país como nunca (isso não quer dizer que não se lhe reconheçam as suas fragilidades).
Tenho um nó na garganta por detalhes que nada têm a ver com o sentimento da "Saudade" e por isso digo: apesar dos muitos pesares, enquanto Portuguesa, cidadã do Mundo, sou uma verdadeira afortunada.
Imagem retirada da internet.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Quinguilas (ou kinguilas).

Há alguns meses que se fala na falta de divisas estrangeiras em Angola: as transferências de salários e pagamentos ao exterior não saem facilmente, por isso a procura por dólares e euros é muito superior à oferta disponível. Como resultado, as taxas de câmbio e os negócios informais disparam de forma assustadora.
A propósito deste assunto, há uns meses ouvi falar nelas pela primeira vez: as quinguilas são uma espécie de "casas de câmbio" informais, representas geralmente por mulheres ambulantes. É nelas que se fala quando o assunto é a troca "informal" de dólares/euros por kwanzas (ou vice-versa). Confesso que imaginava que fossem umas figuras meio obscuras e "escondidas" em becos (quem conhece Buenos Aires, talvez perceba o filme que fiz).
Pois bem, um dia destes cruzei-me com as tão conhecidas quinguilas: numa praça, em plena luz do dia, havia algumas mulheres sentadas e faziam sinal para que nos aproximássemos - faziam o gesto do dinheiro, como o conhecia em Portugal (dedos polegar e indicador). Ignorámos. Uns dias mais tarde, parados e meio perdidos, fomos abordados mas com um toque na janela do carro. O mesmo sinal: o gesto do dinheiro. Espantoso foi saber que estas figuras também se encontram à saída de alguns supermercados. Digo "espantoso" porque a primeira vez que as vi achei que me estavam a pedir dinheiro e não a oferecer os seus serviços cambiais.

Imagem retirada da Internet e que representa uma das várias quinguilas da cidade.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Veículos para todos os gostos.

Já que estamos em "maré" de falar de automóveis refiro uma das minhas primeiras constatações: em Luanda vêem-se muitos veículos altos. Ao contrário dos pequenos e normais utilitários a que estava habituada nos países por onde tenho passado, aqui são comuns os veículos 4x4, SUV ou jipes. Dizem-me que a justificação é simples: há muitas "picadas" (estradas de terra batida), muitas estradas em mau estado e, além disso, as chuvas exigem veículos com competências especiais.
Além da questão do tamanho dos veículos, muito mais haveria a dizer, mas vou deixar para uma próxima publicação...
Um dos vários que se vêem nas ruas (foto da minha autoria).

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Talvez não seja a selva.

Buzinadelas (ainda assim, acho que menos que no Brasil), ausência de capacete ou cinto de segurança, circulação pela esquerda, utilização dos quatro piscas de modo permanente, faixas de circulação que se transformam em 4 ou 5, polícias que fazem as operações stop em hora de ponta. E por aí segue.
De vez em quando aparecem uns "eixos" viários que ainda hoje me intrigam: não sei se são rotunda, se são outra coisa qualquer. "E as prioridades?" Só me ocorre uma resposta: "é de quem chegar primeiro".
Talvez não seja a selva, mas quase parece. Temo que as experiências que tenho tido nos últimos anos não sejam positivamente enriquecedoras para a minha performance automobilística futura...
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Foto retirada da internet.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Toucas cirúrgicas: nova moda?

Quem já esteve em Luanda, seguramente terá visto: há muitas senhoras que usam uma touca cirúrgica descartável no dia-a-dia. Sim, leram bem: touca cirúrgica. Para quem nunca viu, imaginem: em vez de se andar com um chapéu ou qualquer outro acessório capilar visível, anda-se com uma touca. Há as toucas de cor verde e azul, mas é bem possível que existam outras soluções cromáticas. Não se pense que são situações ocasionais: o acessório faz parte do figurino que vai às compras, passeia, vai à missa e sabe-se lá que mais.
Dizem-me que será para proteger o novo cabelo aplicado, mas não tenho a certeza. Confesso a admiração, pois nunca tal tinha visto. Se porventura alguém souber por que o acessório é usado diariamente, que me avise.
Imagem retirada da internet: touca semelhante à que se vê diariamente por aqui.


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Marcas próprias: mudança de hábitos?

Já aqui falei do fenómeno "compras", mas volto a falar nele porque vai muito além de questões de preço. Um dos detalhes que mais surpreendeu quando cheguei a Angola foi a presença de várias marcas do meu imaginário português: Fula, Milaneza, Mimosa, Oliveira da Serra, Sicasal, entre outras. Para quem viveu no Brasil, a história repete-se: Havaianas, Ninho, Sadia, entre muitas outras. Sabemos que a presença destas marcas tem explicações variadas e que vão muito além da promoção do mercado da Saudade e por isso não vou falar desse assunto aqui, mas a verdade é que, para mim, representa uma verdadeira mudança de hábitos.
A questão impõe-se: e marcas próprias (ou "marcas brancas"), existem aqui? Com certeza que sim, mas em muito menor número do que vemos nos supermercados portugueses. É por isso que regularmente dizemos que a vinda para Angola nos provocou uma mudança de hábitos: se em Portugal éramos consumidores assíduos das marcas próprias por causa do que nos parece ser uma excelente relação qualidade-preço, aqui ainda não podemos adoptar a mesma estratégia porque a oferta é muito escassa e, em vários casos, inexistente.
Um dia destes falarei do consumo de produtos nacionais, mas hoje não é o dia :)
Imagem retirada da internet.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Empregadas domésticas.

À semelhança do que ainda acontece no Brasil, em Angola é comum existir a figura da empregada doméstica a tempo (quase) inteiro nas residências. Normalmente faz a limpeza da residência e, nalguns casos, cozinha. No Brasil, principalmente nos apartamentos mais antigos, ainda é evidente o quarto e a respetiva casa-de-banho para as empregadas internas. Em Angola também é comum existir uma empregada para tomar conta das crianças ("bábá", "babysitter" ou, simplesmente, "empregada"). No Brasil, a "bábá" veste habitualmente um uniforme branco. Aqui não consigo ter certeza que isso aconteça. Também não tenho visto quartos específicos para as empregadas angolanas, mas não posso garantir que não existam.
Dizem-me os mais experientes que é comum as empregadas domésticas diárias serem remuneradas com um salário (a partir de 22000 kwanzas), apoio monetário diário ou semanal para o táxi e refeição (normalmente, quando cozinham para os patrões já contam também com uma ou duas refeições para si). 
Nos dias de hoje parece que a oferta de candidatas é bastante superior à procura, mas nem sempre foi assim: houve tempos em que não era fácil encontrar uma empregada doméstica para as casas angolanas.
Foto meramente ilustrativa e retirada do filme "As serviçais".

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

E por que tenho de ter atenção?

Seja em Portugal, Brasil, Angola ou noutro qualquer canto do mundo: para mim, gerir um orçamento será sempre um exercício de atenção e cuidado. Por isso: falemos do que interessa. Um dia destes vi um produto que, pelo preço tão absurdo a que estava, me fez tirar a respetiva foto: 4 rolos de papel higiénico a quase 2000kwz (ao câmbio oficial: cerca de 10 euros). Entretanto, nesse mesmo dia precisei de ir a outro supermercado e, por acaso, vi os mesmos 4 rolos de papel higiénico. Sim, também tirei foto.
Conclusões? :)
Em comum: mesmo preço, mesma marca, mesmo dia, mesma cidade. Diferente: supermercado.



terça-feira, 30 de agosto de 2016

E depois há isto...

Há cerca de uma semana escrevia sobre o drama que é ver o insistente pedido de "soldo" (aqui, adaptado para "saldo"). Digo drama porque acredito que nem sempre o pedido seja feito por vício e malvadez. Há muitos casos em que será feito por pura necessidade de subsistência.
Bom, mas a propósito destes "recebimentos" adicionais muito haveria a contar, até porque muito se conta também. No entanto, como é sabido, os "pré-conceitos" e "pré-julgamentos" nem sempre são amigos do bom senso. 
Num dos primeiros dias de Luanda fui mandada parar pela polícia (algo perfeitamente normal). Pediram os documentos da viatura, olharam-nos, verificaram-nos, não colocaram quaisquer questões e educadamente mandaram-nos seguir, agradecendo a disponibilidade. Normal, certo? Para mim também: normal.
Este episódio serve para referir que, por vezes, as histórias bizarras que se ouvem não são todas verdadeiras.
Foto retirada da Internet.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Testes & testes.

Nem precisa de ser hipocondríaco(a): basta começar a estar atento(a) aos compatriotas e ter algumas conversas minimamente descritivas para dar seguimento ao assunto. E o assunto é: teste do paludismo (malária) e outros que tais. Saímos de um canto onde se falava de zika, dengue e chikungunya, para outro onde a esses se acrescentam novos termos - paludismo (malária), febre amarela, febre tifóide, gastroentrite bacteriana e outros que tais. Ora, não é à toa que qualquer sintoma aparentado com gripal pode ser uma das bichezas atrás mencionadas. Ou então ser uma simples gripe, por que não? Habitual e tipicamente para os menos hipocondríacos (diria), antes da clínica vêm  os testes de farmácia. Quase sempre, porém, a recomendação é "vá à clínica". Na farmácia, um teste de paludismo custa cerca de 1500kwz e um de dengue custa cerca de 3000kwz. Se na farmácia o resultado de paludismo é positivo, a sugestão é a de que se faça o teste da gota espessa no laboratório de uma clínica.
Exemplo de registo de testes comuns e realizados em farmácias.
Qual a probabilidade de se tratar de uma das "comissões" de boas-vindas atrás mencionadas: 100% :)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Preciso de "soldo".

"Soldo" = antiga moeda romana de ouro criada por Constantino em 309 e que circulou em todo o Império até ao século V. 
Esta pequena informação serve para contextualizar este post.
Em relação aos países em que vivi até há data, devo confessar que algo de curioso aconteceu por aqui: em pouco mais de um mês em Luanda, já são várias as circunstâncias em que me foi pedido diretamente o "soldo". Aliás, é raro o momento em que isso não aconteça: levar as compras, estacionar o carro, lavar o carro, recolher o lixo, e por aí vai. Ora, aquilo de que realmente eu não estava à espera é que, no âmbito de uma atividade "oficial" me fosse pedido, de forma muito direta e objetiva, um pagamento "não oficial" para que o meu problema fosse resolvido. De referir que esta situação já aconteceu por duas vezes num curto espaço de tempo.
Em resumo: "soldo", "gasosa", "mata-bicho", "saldo" ou "biscate", tudo serve quando a intenção é pedir um contributo para o rendimento extra.


Foto retirada da internet.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Vamos mata-bichar?

O termo soa estranho, confesso. As gentes de Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste chamam "mata-bicho" à primeira refeição do dia: o primeiro almoço ou, como chamamos em Portugal, "pequeno-almoço".
Há dias lia que muitas famílias têm vindo a substituir hábitos de "mata-bicho" por causa da grave crise que assola Angola: em vez de leite e pão, passam a utilizar chá e arroz cozido. Essencialmente a mudança parece dever-se aos elevados preços que [também] o trigo e o leite têm vindo a atingir, não sendo comportáveis por grande parte de uma população que não tem capacidade financeira para fazer face ao asfixiante custo de vida em Luanda.
Para quem não conhece a história do "mata-bicho", deixo aqui aquilo que encontrei.
Retirado da internet (fonte desconhecida)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Fim do cacimbo?

Dizem os entendidos que a época de cacimbo termina a 15 de Agosto. A partir desta data é expectável que aumente a temperatura do ar, diminuindo a pressão atmosférica e a nebulosidade geral. Parece que as pessoas poderão deixar de se queixar do frio e começarão a queixar-se do calor acentuado.
Bem, tudo seria "joínha" se não começasse também a aumentar a probabilidade de chuvas "tropicais". Quanto a mim, agradeço a chuva porque ela é necessária, mas peço que reencaminhem a mensagem a São Pedro, já que eu não tenho créditos suficientes: evita mandar a chuva toda de uma vez, ok?
Foto retirada daqui.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Esperança.

A semana estava a correr de forma meio atribulada e isso fez com que alguns detalhes mais facilmente me escapassem. Sim, "detalhes" tipo... porta-moedas: perdi o porta-moedas sem dar conta. Ainda eu não me tinha apercebido de tal fato, já o telefone tocava, dizendo que o tinham encontrado. Chegaram até mim através de um cartão de fidelização de uma loja (a pessoa teve de ir à loja para obter os dados do titular do cartão) e de uma cábula de contatos urgentes.
Em resumo: o porta-moedas foi-me entregue em mãos, não apenas com os cartões, mas com todo o dinheiro que ali tinha deixado.
Apesar de este blogue não servir para abordar episódios demasiado pessoais, quero apenas reforçar que continuo a acreditar que a Humanidade tem conserto :)
(P.S.: entretanto, outro episódio parecido, nova ação semelhante)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

1 mês.

Naquele domingo de jogo “grande”, a aventura começava. 
Do primeiro mês em Angola apenas digo que foi profícuo em "acontecimentos" :)

sábado, 6 de agosto de 2016

Bruxos & bruxinhas.

Sempre achei que a malária (paludismo) seria provocada pela picada de um mosquito.
No entanto, isso foi até chegar a Luanda. Aqui "descobri" que afinal o paludismo é provocado pelos "bruxos", aka feiticeiros. Esses malvadões, que só sabem fazer mal às pessoas.
(post a ler sob o efeito de alguma ironia, como é óbvio).

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Sol nascente.

Uma realidade evidente em Luanda é a presença chinesa. Embora haja grandes aglomerados habitacionais iniciados por empresas chinesas, mas atualmente parados, a verdade é que a presença do povo pela cidade é evidente: obras com a vedação periférica ou sinalética em mandarim, casinos, restaurantes e emigrantes chineses fazendo as actividades corriqueiras como qualquer cidadão normal.
A presença chinesa em Luanda é inegável e - ainda que com algum exagero meu à mistura - quase que me atrevo a dizer que já vi mais chineses nos últimos tempos por aqui, do que noutras circunstâncias da minha vida (e olhem que!!!).
Uma das várias placas sinalizando os trabalhos em curso pela cidade.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A bata.

Ao contrário de Portugal, o Rio de Janeiro habituou-me a ver os alunos do ensino público com um uniforme sempre semelhante: calções/saia-calção de cor azul marinho e t-shirt branca com o logótipo da prefeitura local. Ora, nos primeiros dias em Luanda passei a ver crianças de diferentes idades com uma "bata" branca, muito semelhante às que vemos ser usadas por médicos, farmacêuticos ou técnicos de laboratório, em Portugal. Esta "bata" é usada como uniforme pelos alunos do ensino público oficial - desconheço se os universitários também se incluem neste grupo de utilizadores.
Grupo de jovens alunos - fonte: portaldeangola.com

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Restrições.

Antes de imaginar a vinda para Luanda, mas já no âmbito da crise de falta de divisas que se tem vindo a sentir nos últimos meses, ouvia falar em restrições. Nalguns casos, achava - confesso - que poderia haver algum exagero nas afirmações: havia produtos em que as compras estariam restritas a "x" unidades por pessoa. Lembro-me de ouvir falar da água: duas garrafas de 1,5lt por pessoa, em alguns supermercados. Um pouco em choque pensei: "querem ver que não há água em Luanda?" No caso particular desta restrição, parece ter ficado a dever-se à falta de divisas internacionais para aquisição de matéria-prima para produção das garrafas.
Bem, mas entretanto chegou a minha vez de apreciar o mercado in loco: de fato, tenho vistos as prateleiras de supermercado preenchidas. Noto que faltam produtos (exemplo: nem sempre se encontra alho, batata, frango, produtos para combate a insectos, ...) ou não há variedade (em alguns supermercados tenho visto apenas uma marca de alguns produtos). Agora, a pergunta é: será que há restrições de compra de produtos? Resposta: vejam as fotos que tirei num dos supermercados conhecidos aqui da cidade.
Açúcar.
Água.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Somos todos manos. E manas.

O Mundo dá voltas, eu sei. O que não sabia é que, chegada a Luanda, descobriria uma infinidade de novos "manos" e "manas". É verdade: muitas vezes os locais tratam-nos por "mana" ou "mano".
(Bem me diziam que África poderia significar "família numerosa").

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Posso tirar foto?

Raras são as vezes em que não me faço acompanhar do telemóvel para tirar fotos: é prático, fácil de arrumar e está sempre "à mão". Obviamente que, ou por timidez, ou por questões de segurança, há alturas em que o telemóvel acaba por ficar escondido até que me sinta confortável para o fazer ver a luz do dia.
Mas, dizia eu, gosto de tirar fotos. Quando preparava a vinda para Luanda, ocorreu-me que deveria pesquisar informação que me permitisse estar atenta às particularidades da cidade (e do país). Foi por isso que estranhei uma das recomendações: há que ter algum cuidado quando se pensar tirar fotos a edifícios públicos ou agentes de autoridade porque nem sempre esse fato é bem aceite. Recentemente tive a oportunidade de partilhar a minha admiração com alguém que já vive em Luanda há algum tempo e, de fato, a informação prévia pareceu-me confirmada.
Por isso: atenção às fotos! (a foto abaixo foi tirada à sucapa.)
Banco Nacional de Angola.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Bom dia.

Quem já esteve em Luanda há-de ter reparado que, não raramente, quando dizemos "bom dia/boa tarde/boa noite", normalmente respondem-nos com "obrigada".
Será que o hábito se estende a outras províncias?

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Opções.

É sabido - e altamente comentado - que Luanda é uma das cidades mais caras do Mundo (a 2.ª mais cara, em 2016, de acordo com o estudo recente da consultora Mercer). Contudo, não me parece que seja fácil estar preparado para o que se encontra.
É evidente que, fruto das carências ao nível da produção interna angolana, por um lado, e da relação comercial antiga com Portugal, por outro, é fácil encontrar muitos produtos Portugueses. 
Vejamos: se considerarmos o câmbio oficial, 1€ = 185kwz (+/-), apreciem os preços de alguns dos produtos que destacamos: 
1 queijo de 500 grs (Castelões) = 2100kwz
1 lt leite (Mimosa) = 380kwz
Façam as contas e facilmente verão o preço de um litro de leite e de meio queijo...

terça-feira, 12 de julho de 2016

Zungueira

Da rua vinha um som diferente do habitual. Não eram os homens das obras. Não era, tão pouco, o malfadado som do gerador. Era um som agudo, como se alguém cantarolasse na ânsia de uma resposta. E foi assim que a conheci: uma das "zungueiras" que circula diariamente pelas ruas de Luanda. 
Descalça, com uma bacia de fruta à cabeça e uma criança sonolenta amarrada às costas, a jovem rapariga apregoava os seus produtos na ânsia de que hoje conseguisse levar algum sustento para casa.
Foto “Senhora com bébé” de Jose Carlos Costa.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Palancas negras.

A noite estava cerrada e o cheiro a terra húmida cruzava-se com as viaturas e pessoas que por ali circulavam. Os passos apertados, mas rápidos dos jovens que insistiam em pegar nas malas, misturavam-se com os dos passageiros que acabavam de chegar. 
Um pouco depois, os gritos, a histeria: alguém comemorava um golo que se via e ouvia na televisão junto à casa que agora nos recebia. 
E foi assim que começou a aventura angolana: no meio de uma noite de 10 de Julho eufórica.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Regressámos (ou quase!)

Não sabemos se ainda há seguidores resistentes, mas prometemos que em breve iremos voltar às aventuras neste blogue. Entretanto, o melhor mesmo é fazerem um enquadramento através de uma leitura aos posts anteriores.
Até breve!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Planeamento... das compras!

Fazer as compras da semana - ou do dia, conforme o caso - exige planeamento e atenção. É assim em todo o lado, mas no Rio vejo isso como uma "necessidade mais necessária". Para que tenham uma noção mais exata: os preços das frutas e legumes podem variar muito de semana para semana. Não noto tanto essa diferença nas carnes, onde não noto uma flutuação de preços tão acentuada. À semelhança do que se vê em Portugal, há alturas em que se notam promoções interessantes do produto A ou B e então é fazer contas, olhar para a dispensa e decidir.
Alguns dos encartes que se encontram aqui nas proximidades.
Talvez por defeito profissional ou não, mas gosto de comparar preços. É evidente que a atenção não se aplica apenas ao momento da pré-compra, mas no momento da sua finalização: no ato do pagamento convém estar muiiiiiitoooo atento(a) aos valores que são cobrados. Não foi uma, duas ou três as vezes em que ia ficando no prejuízo: olhei, vi erro, reclamei, reclamaram comigo por eu ter reclamado, não pediram desculpa pelo erro, mas o acerto foi feito! Por isso, vale tudo para diminuir o valor da conta:
  • cartões de fidelidade;
  • cupões de desconto - não tão evidentes em todas as lojas por aqui;
  • verificação prévia dos "encartes" - nome pelo qual são vulgarmente conhecidos os panfletos semanais das lojas;
  • atenção redobrada no momento do pagamento;
  • compras mais afastadas dos centros turísticos, sempre que possível.
Boas compras :)

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Biscoitos ou doces de feira.

Quem nos acompanha no Instagram, por exemplo, sabe que já lá falámos do assunto: os biscoitos de feira. No Brasil, as pequenas iguarias vendem-se ao kilo e a sua variedade é imensa. Em Portugal também temos os chamados "doces das festas" e podemos dizer que apresentam algumas diferenças em relação ao que vemos nas feiras livres que temos visitado no Brasil. Aqui vão algumas:

  • não se vendem ao kilo - são mais facilmente encontrados em sacolas ou vendidos à unidade;
  • são maiores - embora existam de variadíssimos tamanhos e formatos, os biscoitos que se vêem no Brasil são geralmente menores do que os que se vêem em Portugal;
  • encontram-se nas feiras e festas populares - suponho que é mais fácil encontrar os bicoitos brasileiros no supermercado do que nas festas que se fazem;
  • há menos diversidade - apesar de podermos encontrar regueifas doces, de canela, de côco, roscas, cavacas, suspiros, doces de gema e outros mais, a verdade é que a variedade que se encontra nas feiras brasileiras é bastante maior do que a que tenho encontrado em Portugal.
Da esquerda para a direita: cavaca, suspiro e doce de gema.

Na foto poderemos ver alguns desses doces caseiros encontrados em algumas das festas populares portuguesas :)